sábado, 16 de dezembro de 2006

(Re)cantos da Lua - Lisboa


Discurso de apresentação do livro de poesia (Re)cantos da Lua, pela jornalista e escritora Ana Paula Almeida

Não me vou pôr a falar de estilos, de construções, da linguagem, dos versos, da rima ou da métrica…
Não me vou debruçar sobre a vida “misteriosa” do poeta e daqueles que o rodeiam e o inspiram, fazendo com que ele se revele, na sua mais profunda essência.
Não me vou pôr a analisar o que só se lê com o coração, pois para rótulos, conselhos e espartilhos literários dou a voz e a vez aos críticos.
Estou aqui como Amiga, primeiro, e como leitora do João Jacinto, para vo-lo apresentar também como poeta, depois de já o ter recomendado como astrólogo, depois de já lhe ter vislumbrado grandes dotes como pintor e depois de continuar a elogiá-lo como homem, com maiúscula, artista versátil e vertical, amigo coerente e leal que só merece o nosso apoio incondicional, até às estrelas.
Pediu-me que aqui dissesse umas palavras, sobre estes (re)cantos da Lua, nesta sua auspiciosa estreia, também como autor.
Li e reli, várias vezes, o livro, com interesse e com paixão; li e reli alguns poemas com admiração e com surpresa.
No final, digo-vos, conheci outro João e outras vertentes da vida, pois vi-a através de outros olhares que o João capta, decifra e concentra, como se fosse uma antena das sensibilidades, expectativas, sonhos, necessidades dos outros, que sabe ouvir como ninguém.
É um poeta do amor e dos afectos, escreve com sentimento, à pele, mas com a gramática apurada.
Escreve a ferro e fogo, pela calada da noite, quando se vislumbram velhos fantasmas amigos, quando os pés aterram, finalmente, no chão, depois de muitas horas, dias, nas estrelas, a perscrutar novos horizontes, para quem o consulta, com esperança.
São poemas que vão ajudar a decifrar alguns enigmas, os mais íntimos, pessoais e “intransmissíveis” e também aqueles que são comuns à maioria das pessoas, transferíveis ao colectivo no que diz respeito ao modo de ser, agir e reagir, no mundo e com os outros.
São poemas rurais, urbanos, de amor e de esperança, de falta de fé e de morte, de um homem capaz de ser vários homens escrevendo poesia como quem constrói: faróis, estrelas guias, bússolas, para quem andar desnorteado, a nível pessoal e sentimental.
Os seus textos são incisivos, acutilantes, metafóricos, uns mais eruditos que outros, mais populares, e uns mais românticos que outros, mais ácidos, mas todos vibrantes, tocantes, incapazes de nos deixarem indiferentes.
Nesta obra está um olhar contemporâneo sobre o mundo, visto por um homem que passa a vida com a cabeça na Lua, entre outros planetas do sistema solar, e outros que ele ainda vai acabar por descobrir…
São poemas que ficam para a memória colectiva do final do séc. 20 e do início deste séc. 21, num percurso complexo e simpático de um “amador que ama a causa amada”, a Poesia, imprescindível para quem não prescinde do prazer, sensorial e mental, entre ondas emotivas e intelectuais que embalam o João Jacinto, agora numa nova fase.
Não é poesia académica, erudita, mas são poemas definitivos, essenciais e alguns inesquecíveis, para quem gosta de poesia.
Ler poesia é mudar de planeta, mental e emocional, é voar por entre as estrelas e pisar a Lua e é sempre assim de cada vez que se relê um poema que se ama.
Li e reli, vezes sem conta, “Não saber ser de mim”, “O tempo da idade”, “Amar”, “Criar” e “Não sei”…
Sei que há poemas curtos e filosóficos, outros quase cómicos, uns tristes, outros mordazes, descritivos, metafóricos, como no “Jardim da vida”, todos eles à espera de serem desbravados por exploradores de sensibilidades, por leitores ávidos, atentos e conscientes do peso que a poesia também tem na vida e até na politica, por vezes de forma pragmática.
Com uma expressão marcada por uma apurada sensibilidade, com um enorme capital linguística, com uma invejável cultura universal, com uma incontida emoção, com uma irrepreensível lucidez, simplicidade, beleza e candura, João Jacinto tem aqui um golpe de asa, mostra fôlego e talento, revoluciona e cria uma linguagem própria, marcada por um modernismo original, não atraiçoa os antigos nem as suas próprias raízes e atinge aqui um novo patamar, uma nova dimensão.
Os seus poemas são retratos de emoções, pessoas, sensações, paisagens, esperanças, traições, amores desamores, vertigens, passado, presente e futuro.
Com unidade, coesão e qualidade, com uma linguagem rica e depurada, este é o espelho de uma nova fase, rica e significativa de João Jacinto, que permanece fiel a certos valores, através das mais diversas mudanças e da sua própria reacção perante este mundo… e os outros mundos…
Em “(Re)cantos da Lua” faz-se um quadro vivo de uma geração, por vezes frustrada, do povo português, tão profundamente lírico e épico, sonhador e melancólico…
Na sua “marcha-poética-social”, João Jacinto parece um arqueólogo do futuro, faz dos seus poemas testemunhos históricos, instrumentos de cultura, verdadeiros manifestos, para a consciencialização da realidade portuguesa, nem sempre de forma tão complacente, a apontar o dedo às fragilidades ou a mergulhar vertiginosamente no poder da palavra universal.
Aos críticos e leitores destes “(Re)cantos da Lua” caberá a decisão final.
Mas para mim garanto-vos que o João Jacinto está sempre em quarto crescente e nunca, como agora, se transformou numa “Lua Cheia”, tão cheia de Poesia., pureza, liberdade, magia, amor e esperança.
Entre ilusões e desilusões, confusões, vitórias, derrotas e consolações, João Jacinto toma de assalto mas com segurança o lugar de poeta no firmamento literário das novas estrelas.


15 Dez. 2006

Ana Paula Almeida

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

(Re)cantos da Lua


Lançamento do livro "Recantos da Lua"


Na Sexta, dia 15 de Dezembro pelas 19 horas, terá lugar o lançamento do livro "Recantos da Lua", no El Corte Inglés, em Lisboa.
O autor, João Jacinto, nasceu a 22 de Junho de 1959, o primeiro dia do signo Caranguejo, no Montijo. Pelo seu percurso profissional podemos afirmar que é um homem de todas as artes, pois de quase todas exprimentou um pouco, mas foi a poesia quem o tocou em primeiro lugar. Desde muito cedo que a poesia faz parte da sua vida. A sonoridade e o ritmo das palavras harmonizam a sua vida desde sempre, impelindo-o no percurso que seguiu. Juntamente com a poesia surgiu a astrologia, também por um acaso, também pela harmonia. E as duas artes mantêm-se lado a lado. Cresceram juntamente com João Jacinto, sendo fruto de uma criação prazerosa e pensada lentamente. Em cada palavra deste livro há um novo paladar a descobrir, um aroma desconhecido que provoca um arrepio sibilante, libertando a nossa imaginação. É uma poesia de recantos, nos quais o autor se escondeu, para furtivamente atacar a nossa sensibilidade com uma linguagem voraz e lancinante, estimulando intensamente qualquer leitor. Quem, através deste livro, olhar a Lua por este prisma, por este recanto e com este encanto, não poderá deixar de sentir o desafio de sentir-se, de se envolver com a sua sensibilidade, e com a do autor também, entrando assim, repentinamente, num Universo místico, mas que nos toca de forma bem real.

© Magna Editora, 2006. Todos os direitos reservados.

sábado, 26 de agosto de 2006

Poemas de Amor

Mortais pecados

Retrato de joão jacinto
Olho fixado no meu próprio olhar,
de cor baça tristeza,
desfocando a máscara, de pálido cansaço
e não resisto ao embaraço de narciso;
sou o Deus que procurei e amei,
em cumprimento do milagre
ou o mal que de tanto me obrigrar, reneguei?
Sou o miraculoso encantador a quem me dei
ou a raposa velha, vaidosa, vestida de egoísta,
com estola de alva ovelha, falsa de altruísta?
No meu lamento, a amargura porque matei;
sangrando a vítima, trucidei-a em ranger de molares,
saboreei nas gustativas variados paladares,
viciadas no prazer da gula do instintivo porco omnívoro.
Rezo baixinho, cantarolando, beatas ladainhas
de pecador que se rouba e se perdoa,
a cem anos de encarceramento.
No aliciamento cobiçante de coxas,
pertença de quem constantemente
me enfrenta, competindo nas mesmas forças,
traindo-me na existência do meu possuir,
viradas as costas, acabamos sempre por fingir.
Entendo velhos e sábios ditados,
não os querendo surdir em consciência.
Penso de mim, a importância de mais,
que outros possam entender,
sendo comuns mortais,
minha é a inteligente
certeza do enganar e vencer.
Sadicamente bofeteio
rechonchunda face de idealista tímido,
de quem acredita e se deixa humilhar,
dá-me a outra, para também a avermelhar.
Vendo-me a infinitas e elegantes riquezas,
de luxúrias terrenas, orgias, bacantes incestuosas,
sedas, glamour, jóias preciosas,
etiquetas de marca,
marcantemente conotadas
que pavoneiam a intensa profundidade da alma.
Salvas rebuscadas, brilhantes de pesada prata,
riscadas de branco e fino pó.
Prostitui-me ao preço da mais valia,
me excita de travesti Madalena,
ter um guru para me defumar, benzer e perdoar,
sem que me caía uma pedra na cauda.
Adoro o teatro espectacular,
encenado e ensaiado em vida,
mas faço sempre de pobre amador,
sendo um resistente actor.
Escancaro a garganta para trautear,
sem saber solfejar.
Gargarejo a seiva da videira,
que me escorre pelo escapismo do meu engano,
querendo audaciosamente brilhar,
descontrolando o encarrilhar,
do instrumento das cordas da glote,
com a do instrumento pulmunar
e desafino o doce e melódico hino.
Sou no vedetismo a mediocridade,
que se desfaz com o tempo,
até ser capaz de timbrar,
sem ser pateado.
Acelero nas viagens
que caminham até mim,
fujo do lento e travo de mais.
Curvas perigosas, apertadas,
que adrenalinam a fronteira do abismo.
Fumo, bebo a mais
e converso temas banais,
por entre ondas móveis,
que me encurtam a pomposa solidão,
nada é em vão.
Tenho na dicção um tom vibrado e estudado,
de dizer bem as palavras que sinto,
mas premeditadamente minto
e digo com propósito sempre errado.
Sou mal educado, demasiado carente,
enfadonho, que ressona e grunha durante o sono.
Tenho sempre o apreçado intuito do saber,
do querer arrogantemente chamar atenção,
por me achar condignamente o melhor, um senhor,
sem noção do que é a razão e o ridículo.
Digo não, quando deveria pronunciar sim.
Teimosamente rancoroso, tolo,
alucinado, perverso, mal humorado,
vejo em tudo a maldade do pecado.
Digo não, quando deveria embelezar a afirmação.
Minto, digo e desfaço-me de propósito em negação.
Mas fiz a gloriosa descoberta do meu crescer,
tenho uma virtuosa e única qualidade;
alguém paciente gosta muito de mim.
Obrigado!
Tenho de descansar.



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